Isis Valverde festeja êxito de Ritinha: ‘Ela faz tudo sem pensar’
Em entrevista à ESTILO, a atriz falou sobre feminismo, liberdade, privacidade, dúvidas na profissão e a vontade de casar e ter filhos.
Para protagonizar A Força do Querer, a atriz se dedicou a um trabalho físico intenso: teve de aprender a nadar com uma cauda de silicone de 23 quilos, que foi especialmente moldada em seu corpo, e fez treinos de apneia para conseguir ficar até dois minutos embaixo d’água sem respirar. Mas Isis gosta mesmo é de ressaltar os aspectos psicológicos quando fala da personagem. “Ritinha tem uma característica muito singular que é a inconsequência. Faz tudo sem pensar”, diz. “Ela tem uma liberdade exacerbada e isso é perigoso. Liberdade demais pode matar e ela serve para alertar o público sobre isso.”
DEBATE EM REDE
Colocar assuntos em evidência para que a população discuta e elabore questões polêmicas é uma das funções da programação da TV aberta, acredita Isis. “Na história, temos ainda a personagem Ivana [Carol Duarte], que vai se descobrir transexual. É incrível que a gente possa falar sobre isso para toda a família”, afirma. “Novela não faz lavagem cerebral em ninguém, como muita gente diz. O que promovemos é um debate que leva o telespectador a raciocinar, entender as diferenças e repensar certezas.” A atriz também quer colocar a plateia do cinema para pensar. No início do mês, entrou em cartaz a comédia romântica Amor.com, em que ela interpreta Katrina, uma blogueira de moda e youtuber que tem um romance conturbado com Fernando, um nerd vivido por Gil Coelho.
Ser atriz exige muito da vida de uma pessoa. Até que ponto vale a pena aguentar essa agressão que é a invasão de privacidade por causa da profissão? É muito desgaste
Isis Valverde
O filme narra a saga de Katrina, que luta para manter a imagem de mulher perfeita nas redes sociais e acaba deixando de lado a própria essência nesse processo. “A gente tem que ter muito cuidado para não perder de vista que o que importa é o real, o olho no olho, e não o que postamos na internet”, filosofa. “Até que ponto alguém precisa inventar um personagem para ser famoso?” Isis recorda que foi uma das últimas atrizes a ter perfil em redes sociais porque odeia a ideia de ficar dependente do celular. Só aderiu ao Instagram por acreditar que, em uma plataforma feita de fotos, é possível enxergar a alma dos outros. “Quando você olha uma foto, você vê um ponto de vista de alguém. Por isso, acho uma pena que o Instagram tenha virado um negócio e que as pessoas disputem likes por vaidade”, comenta. “Você sabia que tem uma pesquisa que mostra que, quando você recebe comentários positivos na internet, isso libera serotonina no seu cérebro e você passa a se sentir bem? Rede social pode viciar!” Isis, entretanto, não observa apenas aspectos ruins na vida on-line. A exemplo da televisão, consegue vê-la como mais um espaço de discussão. “Quero usar a internet para conscientizar as pessoas de alguns assuntos, e não para duelar com alguém”, diz. “Tem muita gente que segue você só para brigar e espalhar ódio. Não podemos alimentar isso.”
FEMINISTA, SIM!
A mais recente bandeira levantada por ela foi o feminismo. Isis diz que não é de hoje que se preocupa com a igualdade entre homens e mulheres. Recorda-se que foi criada de maneira livre em sua cidade natal, a pequena Aiuruoca, com pouco mais de 6 mil habitantes, em Minas Gerais, e que era “meio menino”: jogava bola, soltava pipa, brincava à beira do rio. “Minha mãe nunca me tolheu, mas, quando eu tinha 13 anos, ela me disse uma frase que não esqueci: ‘Quando você nasceu, fiquei com pena, porque sabia que, como mulher, iria sofrer’. Não entendi aquilo e comecei a questionar por que homens e mulheres eram tratados de forma diferente.” Não são poucas as situações em que presencia o machismo. Recentemente, ela estava viajando a trabalho com uma motorista que relatou que sempre ouvia que ela deveria abandonar o volante para pilotar um fogão – e até contou um caso de um passageiro que se recusou a ser conduzido em um veículo dirigido por uma mulher. “Pode uma coisa dessa?”, indigna-se. Para a atriz, é preciso ficar claro para todo mundo que feminismo não é sinônimo de ódio à figura masculina, mas sim de igualdade entre os gêneros. “O feminismo é benéfico até para os homens. Quantos amigos você tem que não abraçam e beijam o rosto de amigos homens com medo de serem tachados de gays? Quantos homens não têm a masculinidade questionada quando recusam uma investida feminina? O feminismo traz uma liberdade de agir para todos”, opina.
ATRIZ PARA SEMPRE?
Cheia de questionamentos, Ísis coloca em xeque até mesmo a própria profissão. No período em que esteve afastada da TV, entre o fim 2014 e o início de 2017, passou seis meses em Nova York, onde estudou e aproveitou o tempo livre para refletir sobre a vida e suas escolhas. Quando se mudou para os Estados Unidos, levou na bagagem a dúvida se deveria ou não continuar atuando. À primeira vista, isso pode parecer bobagem, mas considerar abdicar de uma carreira de sucesso é um sacrifício e tanto se levarmos em conta que ela persegue o sonho do estrelato desde criança. “Ser atriz exige muito da vida de uma pessoa. Até que ponto vale a pena aguentar essa agressão que é a invasão de privacidade por causa da profissão? É muito desgaste”, desabafa. “Hoje, sei que minhas duas prioridades são a saúde e a família. O trabalho vem em terceiro lugar. Amo atuar, mas, no dia em que cansar, paro com tudo e vou embora. E, quando falo tchau, é tchau mesmo. Não tem volta!” Com essa reflexão e já escolada quando a curiosidade se volta para a sua vida pessoal, ela naturalmente se recolhe ao falar de seu atual relacionamento. Namorando há pouco mais de um ano o modelo e empresário carioca André Resende, 37 anos, Isis não comenta muito a vida do casal. “Penso no sentimento do que rola agora. Quero casar e ter filhos, claro. Mas evito fazer planos, pois isso frustra qualquer relacionamento”, despista. “No meu namoro, deixo as questões virem naturalmente para que nós dois possamos responder quando for o momento.”
Isis tem tanto o que comentar sobre variados assuntos que quase nos esquecemos de falar sobre… moda. Fã convicta de vestidos – valem todos os estilos –, é aberta a experimentações e diz que não tem restrições sobre o que usar, mas faz uma ressalva que a define como uma não fashion victim. “Não me obrigo a vestir nada que não me sinta bem, mesmo que seja tendência. Mas dou uma chance ao que os stylists me propõem. Acredito que a moda tem que ser, acima de tudo, uma relação de respeito com você mesmo.”
Edição de Moda: Marcela Belleza. Styling: Paloma Vergeiro. Beleza: Ton Reis com produtos Smashbox. Produção executiva: Octavio Duarte (Studiood). Assistentes de fotografia: Andre Santos e Tatiana Toledo. Tratamento de imagem: Mané. Manicure: Dulce Heinrich.