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Os saltos exóticos que viraram febre entre as marcas

Em forma de colunas, folhas, esculturais: os centímetros que separam nossos calcanhares do chão dão um passo à frente no quesito extraordinário.

Por Simone Emanhotto
Atualizado em 20 jan 2020, 10h45 - Publicado em 9 jul 2017, 10h00

Discussões sobre sapatos se parecem com as sobre política. Plataformas, anabelas e flatforms são como partidos de ocasião: como bandeiras, vêm e vão dependendo de para onde sopra o vento da moda. Mas, no caso dos saltos, paradoxalmente, a contenda fica rasteira. As partidárias do salto zero reivindicam o andar mais longe. Para elas, saltos equivalem a uma bola de ferro nos pés, coisa de mulher-objeto. Eles podem ser entendidos ainda como um artifício para empoderar a mulher. Em outras palavras, se os saltos dizem algo sobre nós, isso se resume a submissas ou dominatrix. Se você perguntar ao designer Christian Louboutin o porquê do sucesso do stiletto, ele explica que “calçá-los é como ter um orgasmo”. “O salto simula o arquear do pé da mulher no momento do ápice sexual”, diz. Sem contar os efeitos no corpo: empinar o bumbum, afinar e alongar as pernas. Saltos significam sexo desde a Roma Antiga, mas entendê-los como um joguete erótico é pouco, além de triste. Por que não elevar o nível da discussão e deixar os centímetros que separam nossos calcanhares do chão dizerem coisas mais interessantes sobre nós?

Há duas temporadas, os estilistas vêm dando passos extraordinários nessa direção. A comum linha reta e esguia do stiletto tem dado lugar a quase delírios. “É como se o salto passasse a ter vida própria e virasse a parte mais importante do sapato”, diz Kirsty Minns, diretora criativa do The Future Laboratory, consultoria de tendências londrina. “Agora, a ideia de subir no salto fala de diversão, fantasia, criatividade, ironia.” Veja o caso da coleção resort 2018 da Chanel, que trouxe gladiadoras com saltos em formato de colunas jônicas (a inspiração foi a Grécia Antiga), e da sandália vencedora da primeira edição do Prêmio Swarovski de Design de Acessórios, que aconteceu durante o tradicional Festival Internacional de Moda e Fotografia de Hèyers, no fim de abril, na França: uma plataforma assimétrica e de ares esculturais assinada pela designer suíça Marina Chedel.

O salto em forma de coluna jônica do resort 2018 da Chanel, desfilado em maio. ()

Leia Mais: Salto de coluna grega: o detalhe da sandália no desfile da Chanel

A plataforma assimétrica e escultural que fez a designer saíça Marina Chedel vencer a primeira edição do Prêmio Swarovski de Design, em abril. ()

Para o verão 2017, Teymur, Loewe, Fendi, Mulberry dividiram uma inspiração: a rainha Maria ­Antonieta – os saltos acinturados, curvos, quase em “S”, são o destaque das botas de amarrar ou com babados. Dolce & Gabbana esculpiram rosas vermelhas em meia-pata e propuseram um salto em forma de abacaxi. Na Kenzo, o modelo agulha deu lugar ao mola (parece uma ode aos cachos). Na Saint Laurent, o barato é se equilibrar sobre os 11 centímetros do logo YSL. Charlotte Olympia desenhou uma baiana, com direito a costelas-de-adão, que sobem pelas canelas, turbante e brincos, nas sandálias meia-pata da coleção “Let’s Go Bananas”. Já a label Ruban, uma das mais importantes made in Rússia, aposta em um salto que imita uma folha de carvalho para o inverno 2018.

Do inverno 2018 da russa Ruban: uma folha de carvalho estilizada. ()

Quem acha que tudo isso é invenção de moda demais pode olhar propostas menos delirantes antes de decidir descer do salto. Vários são os estilistas que optaram por brincar com geometrias. Ainda no verão 2017, Jacquemus deixou o escarpim preto mais moderno com uma coluna arredondada branca, que extrapola a linha do calcanhar – pense em Oscar Niemeyer. Na Acne, uma curva niemeyeriana também transforma a base do escarpim. J.W. Anderson foi outro a fazer arquitetura, mas mais bauhaus: o salto é um paralelepípedo fino como um tablete de chocolate, que faz o pé parecer mais comprido. Antonio Marras e Giambattista Valli provam que o salto pode ser interessante sem ser extravagante: ambos criaram contrastes com o cabedal acrescentando detalhes ou apenas um outro tipo de estampa.

Para as mais pé no chão, nada se compara à reedição do salto-vírgula, criado, em 1963, por Roger Vivier, o sapateiro colaborador de Dior, por Maria Grazia Chiuri para o verão da maison. Vivier, que leva crédito pelo stiletto, explorou várias formas de saltos – a choc, de 1959, é uma versão abaulada do stiletto. Antes dele, Salvatore Ferragamo já havia brincado com o salto-gaiola e um salto barroco, esculpido em metal. Antes dele ainda, André Perugia havia delirado com o sapato de salto alto sem salto, um stiletto espiralado como uma broca de furadeira e outro, em forma de abridor de vinho. Sem falar num modelo que sobrepõe esferas douradas da menor à maior, no calcanhar – e que Elli Karagach, estudante de moda na Belazel Academy of Art and Design, em Jerusalém, acaba de virar de ponta-cabeça: num de seus sapatos, as esferas (de massinha, enroladas como brigadeiro) vão da maior para a menor. “Estamos nos exercitando nos saltos e as possibilidades são enormes”, diz. Em uma investida anterior, ela fez uma impressão em 3D de um salto em formato de torrada de pão. As possibilidades, como Elli afirma, são de fato muitas. Em caso de dúvida, vale testar a invenção da Hood by Air – uma bota caubói cujo salto é… a frente de uma bota caubói. Como na foto histórica do ex-presidente brasileiro Jânio Quadros, não saberemos nunca se você vai para a direita ou para a esquerda. Mas é certo que o seu salto será de virar a cabeça.

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