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Conheça melhor o movimento body positive e as celebs que o apoiam

As famosas e influenciadoras que rejeitam os estereótipos irreais e levantam a bandeira da autoaceitação.

Por Marcia Kedouk
Atualizado em 17 jan 2020, 12h07 - Publicado em 25 nov 2017, 18h00

Se ela posta uma foto sua feita de um “ângulo bom”, é criticada por parecer magra e comercial. Se mostra as celulites, as estrias e os pneuzinhos, é acusada de promover a obesidade. Quem expõe o fato em tom de desabafo é a top norte-americana Ashley Graham, em texto publicado no site Lennyletter.com, da atriz e roteirista Lena Dunham, conhecido por ser um fórum de discussões sobre padrões de beleza e comportamento. “O ciclo do body-shaming (vergonha do corpo) precisa acabar. Estou cansada”, afirma. Famosa por suas curvas, que a levaram para a categoria de modelos curvy, Ashley aproveita sua exposição na mídia para rejeitar os padrões de beleza. E não faz isso sozinha. Há um forte movimento a favor da autoaceitação no ar. Batizado de “body positive”, ele é uma espécie de consequência do movimento #nomakeup, que tem a cantora norte-americana Alicia Keys como uma das porta-bandeiras. Foi um manifesto dela, um símbolo da música pop, em que dizia estar farta do discurso que pede às mulheres para que sejam magras, sensuais e perfeitas, que deu força às selfies de gente do mundo todo – atrizes como Gwyneth Paltrow e Cameron Diaz incluídas – sem maquiagem. “Sentia como se a minha aparência não fosse boa o bastante para o mundo ver. Todo dia, eu saía de casa preocupada se tinha me maquiado. Minhas inseguranças eram baseadas no que os outros pensavam de mim”, disse Alicia. “Não quero mais me cobrir. Nem meu rosto nem minha alma”, concluiu.

Não significa que ela e demais musas declararam guerra ao batom. No começo de 2017, quando Alicia apareceu maquiada na capa de uma revista, deixou claro que o ponto é outro: cada uma tem o direito de decidir como quer se expressar, sem ser escrava da maquiagem – nem da cara lavada. É nessa terra empoderada das escolhas que famosas e influenciadoras cravam a atual bandeira da autoestima.

TERAPIA DO AMOR-PRÓPRIO
O corpo é uma das amarras femininas mais cruéis. Por isso, está no centro do discurso e da prática da autoaceitação. “Vivemos em uma sociedade patriarcal, em que as mulheres têm muitas obrigações, inclusive de imagem”, diz a psicóloga e psicanalista Patricia Gipsztejn Jacobsohn, de São Paulo. “O corpo tem sido usado não mais para explorar o mundo, mas para limitá-lo.” Segundo ela, a raiz do problema muitas vezes está na infância. A youtuber carioca Alexandra Gurgel, do canal do YouTube Alexandrismos, criado para falar sobre gordofobia, é um exemplo. Ela sempre sofreu uma pressão brutal para ser magra como os irmãos. “Desenvolvi ansiedade e compulsão alimentar. As pessoas desejam que você perca peso, mas ninguém quer saber como”, conta. “Um dia, procurei a arma que meu pai guardava em casa com a mesma determinação de uma criança que caça chocolate escondido. E encontrei. Por sorte, as balas estavam separadas, em outro lugar. Quando dei por mim, entreguei a arma a ele e pedi: pai, me afasta disso. Eu não tinha nem 15 anos. Odiava meu corpo e queria dar um fim ao meu sofrimento.” A terapia ensinou Alexandra a entender quem ela era e a se livrar de gente tóxica. Hoje, aos 28 anos, ela sabe da importância de falar a respeito do assunto na internet e ajudar outras mulheres.

O que chama a atenção no trabalho das influenciadoras do body positive é como elas tornam transparente o fato de que a construção da autoestima é um processo, e não um fim. “A autoaceitação implica em entender que a nossa vida é imperfeita, que somos falhas”, diz a jornalista gaúcha Daiana Garbin, que criou em 2016 o canal Eu Vejo, no YouTube, depois de pedir demissão da Rede Globo. Daiana se achava inadequada desde os 5 anos de idade, quando se via gorda em meio às amigas do balé. De lá para cá, encarou dietas malucas, períodos tomando remédio para emagrecer e três lipoaspirações. O marido, o apresentador Tiago Leifert, e a terapia deram o apoio de que ela precisava para deixar de se punir e encarar com mais compaixão seus transtornos alimentares. “Amar o corpo virou uma obrigação. Mas não temos que venerar uma imagem perfeita, e sim estimar o ser humano maravilhoso que somos”, diz. A top brasileira Fluvia Lacerda concorda. “Sou uma mulher gorda e tenho celulite, estria e uma tremenda admiração por meu corpo ter gerado dois filhos”, conta. “Minha ascendência tem portugueses, espanhóis, índios e negros. Entendo, respeito e gosto do meu DNA por ter me dado um físico saudável e uma cabeça que raciocina.”

Fluvia Lacerda, modelo do segmento plus size. ()

Questão de DNA. Não existe prática mais empoderadora do que saber quem você é. A atriz Taís Araújo fez há algum tempo uma transição capilar para voltar a ter cabelo crespo depois de anos de química para alisar os fios. A cantora Karol Conka também deixou de agredir a própria beleza. Ela diz que, se for para deixar o cabelo liso, que seja por vontade própria, e não por falta de autoaceitação. Para Fluvia, quanto mais mulheres derem o exemplo da autoestima, mais as outras vão se ver representadas e seguir pelo mesmo caminho.

O PODER DA EMPATIA
As cariocas Joana Cannabrava e Carla Paredes são prova de que expor vulnerabilidades gera empatia – e isso cria uma rede sólida de apoio. Elas começaram o blog F-utilidades em 2010 com a ideia de falar de moda e beleza. “Como não temos o biotipo aprovado nesse mercado, sempre nos comparávamos com outras blogueiras e achávamos que elas eram muito mais magras, mais lindas, com o cabelo mais perfeito”, diz Joana. “No ano passado, avaliamos nossos posts e vimos que os melhores tinham a ver com autoestima. Deixamos para trás o ‘tem que ter’ para começar o projeto Papo sobre Autoestima, que prega a busca por um olhar amoroso e acolhedor sobre quem somos.” Quando o primeiro filho de Carla nasceu, em 2016, ela experimentou a dualidade entre o amor à criança e a constatação de que não tinha mais tempo nem liberdade. Resolveu, então, escrever sobre isso. “Encontrei alívio nos relatos de outras influenciadoras sobre a maternidade real e percebi que falar das minhas inseguranças poderia ajudar as mulheres. Logo formamos uma rede de suporte mútuo.” Ainda assim, durante a gravidez, Carla enfrentou alguns questionamentos. “Não postei foto segurando a barriga, usando top e com aquela expressão plácida das mães perfeitas do Instagram. A princípio, isso gerou um estranhamento de quem nos acompanha. Algumas chegaram a perguntar se eu não estava contente com a gestação!”, diz, surpresa.

Nesse caminho do autodescobrimento, a gente derrapa mesmo. E muitas vezes nem percebe que, ao comentar o corpo das outras e questionar suas escolhas, dá um empurrão para que eles também caiam na armadilha da perfeição. Que bom que haja cada vez mais mulheres inspiradoras sinalizando que já deu. Vamos nos libertar de padrões – e vamos fazer isso juntas.

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