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Como a era Trump mudou o papel das celebridades

A impressão de acesso ilimitado à vida dos ídolos pop pelas redes sociais, editada e cheia de filtros, altera as definições do que é ser celebridade hoje

Por Laís Barros Martins
Atualizado em 20 jan 2020, 08h22 - Publicado em 18 ago 2017, 12h43

“A fama é fugaz. Em alguns casos raros dura, mas não sem atenção excruciante, orientação magnífica, sorte e habilidade para se adaptar à mudança de estilos e gostos”. Assim começa o mais recente livro de Julie Klam, o “The Stars In Our Eyes: The Famous, The Infamous, And Why We Care Way Too Much About Them” (“As estrelas em seus olhos: os famosos, os não-famosos e por que nos importamos com eles”, em tradução livre).

O estudo da autora nos dá uma visão divertida do jeito absurdo que as celebridades moldaram nossos sentimentos transformando-os em uma obsessão diária em acompanhar o feed de seus Instagram. Além disso, Klam explora nossa expectativa cada vez maior de que as estrelas ajam como embaixadores culturais, interpretando e refinando nossos valores fora do alcance das luzes do palco. Em uma era de crises culturais, como a restrição sistemática a direitos relacionados ao aborto e o ressurgimento de um nacionalismo branco na América, questiona-se como o papel dos influenciadores de Hollywood está mudando com a administração de Trump – que por si só já é uma “presidência de celebridade” – e se estas pressões alteraram nossa relação com a fama.

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Abaixo, reproduzimos uma entrevista com a autora cedida ao site Refinery 29:

De onde vem nossa obsessão insaciável em relação às celebridades?
“O valor real da cultura da celebridade é o escapismo. Assisti-las e ler sobre elas é uma forma de sair do nosso abatimento e ir para outro lugar, o que não custa muito e pode levar menos de cinco minutos. As razões por que somos obcecados por eles são muitas, as celebridades de que gostamos são nossos deuses: olhamos para elas como exemplos do que queremos. E mesmo que sejam iguais a nós, elas não são a gente: são mais bonitas, mais talentosas, mais atléticas, mais impressionantes. Naqueles momentos em que estamos juntos, podemos dar um tempo em sermos a gente mesmo. Não dura para sempre, mas às vezes é suficiente. Começamos a sentir que as nossas estrelas favoritas são como parte da nossa vida, elas se tornam os amigos que não conhecemos. E ficamos animados com elas do mesmo jeito que ficamos com as pessoas à nossa volta, porque acompanhamos como se desenrola o filme da vida delas. Na verdade, ninguém tem ideia do que acontece no casamento ou divórcio ou escândalo público da vida de outra pessoa, mas nós adoramos pensar que estamos envolvidos com aquela história e que conhecemos os personagens.”

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Como as mídias sociais mudaram nossa relação com as celebridades? Por um lado, Instagram, Twitter e Facebook Live nos dão a impressão de que realmente estamos envolvidos com as nossas celebridades preferidas. Por outro lado, nós apenas vemos aquilo que elas querem que a gente veja.
“Nós todos temos acesso ilimitado à vida dos famosos e dos não-famosos. Nos dias de ouro de Hollywood, não havia a Internet com bilhões de sites de fofoca, canais de TV dedicados a reproduzir histórias de celebridades por 24 horas nem atrizes tuitando trechos de suas sex tapes. As celebridades usam as mídias sociais como uma forma de controlar a narrativa e sua marca, o que não nos aproxima delas. Eu acompanho o Instagram da Drew Barrymore (eu adoro ela), e ela postou uma foto muito humana dela mesma com cabelos grisalhos e sem quilos de maquiagem, e todo mundo a aplaudiu. Mas, claro, isso também faz parte da marca que ela quer construir, para se sentir acessível e conhecida por nós. É uma coreografia de dar e receber. Eles querem que a gente imagine que estão convidando seus seguidores para participar de suas histórias, mas é sempre apenas para um capítulo ‘comissionado’. Ainda assim, não acredito que nenhum de nós possa saber como deve ser viver sob este microscópio, de receber o amor ou o ódio de pessoas que você não conhece, que te idolatram ou te culpam. Deve ser extremamente difícil lidar com isso. Celebridades dão às pessoas a oportunidade de serem ouvidas. Mas precisam ter o cuidado de ser claros e se certificar de que o público está recebendo as mensagens certas deles: não há roteiros.”

Como você acha que as apostas mudaram para as celebridades na era Trump – considerando, principalmente, que o presidente é uma antiga estrela da TV? Uma vez que eles nos convidam a participar de suas vidas via mídia social, os famosos nos devem satisfação sobre seus posicionamentos políticos?
“A definição para celebridade mudou durante a era Trump. Há 50 anos, celebridades tinham um talento específico (e mantinham suas vidas pessoais em um recuo digno fora dos holofotes), mas as irmãs Kardashians mudaram tudo. Agora, cada vez mais, há uma busca por aquela fama perpétua – e uma vez que alcançamos isso, pensamos que aquelas vozes devem ter influência em qualquer lugar, até mesmo na Casa Branca. O único talento de que precisam estas pessoas é uma colossal falta de vergonha. É como se ter seguidores do Twitter ou do Instagram fosse o mesmo que merecer o mérito real, uma real qualificação para um emprego. Eu também acho que as celebridades agora se preocupam menos em ofender seus fãs, porque as apostas são bem mais altas. Nossas diferenças não são mais apenas sobre taxas de impostos ou desentendimentos políticos, elas estão relacionadas a debates sobre direitos humanos e desigualdade. As celebridades sabem que as pessoas estão ouvindo. Eu não acho que elas nos devam suas visões políticas, mas elas as compartilham mais do que nunca. E, claro, isso pode ter sérias reações.”

Sobre o episódio recente envolvendo a feminista Taylor Swift, nos perguntamos por que sua marca de empoderamento feminino erra tanto. É justo julgá-la mesmo ela não sendo uma figura abertamente política?
“O trabalho de Taylor Swift é cantar – ela não é nossa bússola moral, embora eu ache que mulheres jovens e poderosas como ela são julgadas com mais dureza porque faltam modelos mais fortes para as garotas. Nós usamos a política para nos sentirmos mais próximas a elas, como uma forma de engajamento, de reclamar a participação no mundo dela porque elas nos convidou via rede social a fazer parte disso. Esta é uma das grandes diferenças entre ser celebridade agora e no passado. Os famosos costumavam receber curadorias completas de seus agentes, e agora, com o aparente acesso ilimitado que temos por meio do Instagram e do Twitter, está tudo bem mais complicado.”

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