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Garance Doré conta como chegou aos lugares mais cobiçados da moda

A francesa conta como chegou nesses lugares privilegiados da indústria e por que abriu mão para continuar produzindo conteúdo de moda.

Por traduzido da InStyle
Atualizado em 17 jan 2020, 12h44 - Publicado em 11 nov 2017, 10h11

“Nunca imaginei que um dia estaria sentada na disputada fila A dos mais badalados desfiles de moda, como os da Altuzarra e da Chanel, rodeada de celebridades. Uma vez sentada lá, no entanto, comecei a refletir sobre como minha história me levou até ali. Fui considerada uma das respeitadas influenciadoras de moda pelo The New York Times (Garance foi uma das primeiras fotógrafas de street style do início dos anos 2000 a ser reconhecida, ao lado de seu então namorado, Scott Schumann, do blog The Sartorialist). Recebi, em 2015, o CFDA Fashion Awards, o mais importante prêmio da indústria, entregue a mim por Pharrell Williams. Ele disse que eu era visionária e todos na plateia aplaudiram.

Porém alguma coisa andava errada. Quando eu dizia aos meus amigos fashionistas que não gostava muito de ir a desfiles de moda, eles me lembravam que as pessoas se matariam para ter o meu lugar. Então eu ficava dizendo para mim mesma que eu era sortuda. Até que um dia…

Cresci na Córsega, uma pequena ilha francesa, com meus pais, jovens imigrantes. Meu pai veio de uma família de talentosos chefs de cozinha italianos e a minha mãe, recém-chegada da Argélia, sabia como fazer da vida algo alegre, interessante e bonito mesmo sem nenhum dinheiro. Eles abriram um restaurante e o tornaram tão popular que tinham clientes como Brigitte Bardot e todas as modelos importantes dos anos 1990. Córsega é selvagem, intocada e linda. Já Ajaccio, a cidade onde nasci, também na França, era ensolarada e sonolenta. Mas lá tinha uma rua com lindos cafés, que ficavam cheios quando a noite chegava. As pessoas se vestiam, saíam de casa e iam para eles. Era a maneira de mostrar aos outros o que tinham. Elas se sentavam nos terraços, bebiam e conversavam, julgando e sendo julgadas. Isso parecia animado e divertido, mas eu me sentia indecisa sobre tal hábito. Odiava a valorização de carros, joias, roupas e qualquer coisa que quisesse dizer ‘sou a pessoa mais importante da cidade’. Não tinha dinheiro para essas tais coisas nem confiança para ir à praia. Não me achava alguém interessante. Mas não tinha alternativas. Ou me juntava a eles ou ficava sozinha. Muitas vezes, tentei participar. Às vezes, chegava a me divertir, mas na maior parte do tempo me sentia vazia e deslocada.

Aos 17 anos, passei a viajar e a explorar o mundo. Se você me encontrasse nessa época, teria pensado que eu era a pessoa mais sociável. Sempre fui curiosa sobre as pessoas e amo dividir minhas histórias. Então, fiz muitos amigos, alguns dos quais ainda hoje muito próximos. Mas a tal sensação de não-pertencimento continuava. Trabalhei em filmes e com música e, enquanto não encontrava um lugar meu, aprendi a me sentir em casa em qualquer lugar.

Comecei o meu blog quando tinha 31 anos, no momento em que os sites revolucionaram o métier. Minha página, com fotos, ilustrações e dicas pessoais, se tornou popular e foi parte importante de um novo jeito de funcionar da moda. Nesse processo, me tornei importante no meio – e passei a ser convidada para os desfiles. Foi assim que fui parar nas primeiras filas, sentindo aquela dolorosa incerteza. A impressão que eu tinha era estar de volta ao terraço dos cafés de Ajaccio, que frequentava 20 anos atrás – querendo fazer parte de uma multidão bonita, mas me sentindo deslocada. As pessoas vinham a mim procurando uma nova perspectiva sobre a moda, mas eu me sentia presa a um mundo com regras e poucas alternativas.

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Muito disso tem a ver com status – onde você está sentada, com quem está conversando, que estilistas consideram você importante para emprestar suas criações (isso se você for magra o suficiente para entrar nas roupas que eles mandam). Só que nunca fui boa em ser o destaque, não queria ser magra nem me vestir como uma fashionista. Mesmo assim, frequentando as semanas de moda, as dúvidas começaram a surgir: eu deveria fazer uma dieta de pipoca e cigarros como algumas fazem? Deveria entrar no jogo e colocar meus óculos escuros e fingir que sou tão importante que não reconheço ninguém? Lembrava o tempo todo do que me diziam: ‘Você tem trabalhado tanto por isso, não deixe escapar. Há pessoas querendo o seu lugar’. Então continuava sorrindo para as câmeras, tentando ignorar a dor no meu peito, que só crescia. Chegou um ponto em que eu pensava sobre os desfiles e o que os rodeia com tanta ansiedade que tinha medo de perder o meu amor pela moda. Um dia, levei minha irmã a um deles. Quando acabou, perguntei o que ela tinha achado, e a resposta foi: ‘Você está louca? Odiei! Quem são essas pessoas e quem elas acham que são?!’ Fiquei brava com ela. Nesse momento, ainda estava tentando me convencer de que eu estava onde todos queriam estar. Então continuei. Até que aconteceu.

Estava em Paris, na minha casa, pronta para ir ao desfile da Chloé. Sentei para calçar o sapato e comecei a chorar. Tentei controlar para não borrar o make, mas então veio um choro forte. Deitei na cama, tentando respirar. Liguei para a Emily, em Nova York, que trabalha comigo e me conhece bem. Ela disse: ‘Já deu. Você foi pressionada o suficiente. Não precisa ir a esse desfile ou a qualquer outro. Se troque e vá descansar’. Nesse dia, percebi que estava esgotada e eu jurei nunca mais me forçar a me encaixar em um padrão novamente. Deixei esse lugar na primeira fila para uma pessoa da minha equipe que adoraria estar nele e fui em busca de um novo jeito de continuar na moda, que amo, afinal.

Coincidentemente, passei a observar que a relevância dos desfiles passou a ser questionada, já que temos tantas informações disponíveis hoje, nos mais diferentes meios. Aproveitei a deixa para sair um pouco dessa cena e me focar no que realmente gosto: olhar para moda sem regras. No Atelier Doré, empresa que toco atualmente, damos consultoria, criamos campanhas, desenvolvemos conteúdos e expressamos nosso amor pela moda com fotos de mulheres reais usando roupas reais. Algumas vêm da passarela, é verdade, mas contamos histórias do nosso jeito. E isso me faz bem. Entendi que a vida é sobre se divertir, encontrar um sentido e pessoas que partilham essa visão. Um conselho? Não siga necessariamente o que dizem ser cool. Mas o que sente dentro de você, pois isso nunca a levará ao erro.”

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